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Matrix & Maya

Atualizado: 19 de ago.

Sinto-me estranha neste mundo. Na verdade, não é a primeira vez. Muitas outras vezes já me senti deslocada, como se algo não se encaixasse. E você, já se sentiu assim?

 

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Lembro-me bem da primeira vez que eu assisti ao filme Matrix, em 1999. Naquela época, eu estava começando a estudar e praticar Yoga. O impacto do filme foi profundo. Eu saí do cinema paralisada, pensativa, como se um portal tivesse se aberto dentro de mim. Passei dias refletindo.

 

O que potencializou esse estado de reflexão foi a enorme semelhança entre a ideia de uma realidade ilusória mostrada no filme e o conceito de Maya, ensinados pelo grande mestre do Yoga, Paramahansa Yogananda, e pelo Budismo.

 

Maya é a ilusão que o ego se apega, tornando a mente incapaz de perceber o que seja verdade e realidade. A ilusão de que somos apenas matéria, de que estamos separados do todo e de nós mesmos. Como diz o “Bhagavad Gita - “Deus Fala com Arjuna”, esse ensinamento atemporal.

 

No enredo, descobrimos que o mundo vivido pelas pessoas era, na verdade, uma simulação – a “Matrix” – criada por máquinas sencientes (uma evolução da inteligência artificial) para manter os humanos subjugados, em hibernação, enquanto seus corpos forneciam energia para sustentar a Matrix. Neo, ao descobrir essa verdade, vê-se diante da escolha: permanecer na ilusão ou despertar. E é atraído para uma rebelião contra as máquinas, que envolve outras pessoas que foram libertadas do "mundo dos sonhos".

 

A grande semelhança é que a filosofia do Yoga tem como propósito maior o despertar de uma nova consciência, para se libertar do sofrimento. O despertar de que somos seres divinos e capazes de viver em paz, com alegria e sabedoria, mesmo durante o sofrimento, pois aprendemos a lidar com ele.

 

Também para o budismo, o sofrimento é inerente à existência devido à nossa ignorância da verdadeira natureza da realidade e ao nosso apego a conceitos ilusórios como o "eu" permanente e a busca por prazeres passageiros.


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O budismo ensina que todos os seres possuem a natureza búdica, uma potencialidade inerente para o despertar e a iluminação. Essa natureza, no entanto, pode ser obscurecida pelas impurezas mentais como apego, ódio e ilusão.  E completa que o despertar não é um evento único, mas um processo contínuo de desenvolvimento e transformação interior.

 

As irmãs Wachowski, que escreveram o enredo do filme, são duas geniais futuristas, mas só erraram em uma coisa. Hoje, a Matrix está muito mais poderosa. 

 

Não é mais segredo para ninguém que a “Matrix” tem sido responsável por muitas doenças mentais e pela epidemia da solidão, afetando milhões de pessoas no mundo. O número percentual de pessoas deprimidas e com altas crises de ansiedade tem aumentado consideravelmente ao longo dos anos. A maioria dos alunos que eu recebo, pelo Wellhub, procura o Yoga para ajudá-los com a ansiedade crônica, estresse, burnout e até depressão. E muitas vezes chegam por recomendação médica. E o mais incrível ainda, pessoas estão morrendo, caindo de abismos, sendo atropeladas ou em acidentes de carros, porque não conseguem largar a tela.


Não nego: muitas vezes me percebo presa a ela. E, ao mesmo tempo, desejo profundamente me libertar. A facilidade do vício é assustadora. Percebo que leio menos, que minha atenção é disputada a cada instante. Como forma de resistência, desliguei todas as notificações e, após as 21h, o celular entra automaticamente em silêncio.


Não sou contra a tecnologia, pelo contrário, ela salva vidas, reduz o uso de recursos ambientais, encurta distâncias, otimiza tempo e custos. O problema não é a tecnologia em si, mas o mau uso que fazemos dela. É isso que precisamos tomar cuidado.


Estamos nos deixando ser hipnotizados pela tela. Consideramos que estar nas redes sociais ou pertencer a um grupo de WhatsApp alimenta as relações humanas. A maioria dos mais jovens considera uma afronta ter que atender a uma chamada telefônica, mesmo que seja de uma pessoa da sua família ou do trabalho. Olhar nos olhos, ouvir e ser ouvido está se tornando raro. Cada vez mais, voltamo-nos para dentro das telas e mais para fora de nós mesmos.


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O resultado é preocupante: uma sociedade com dificuldades reais de se relacionar, de perceber sinais faciais e corporais, de exercitar empatia, sendo incapaz de entender e de se colocar no lugar do outro.


Pediatras, psiquiatras e psicólogos alertam para os riscos do uso precoce das telas. Crianças e adolescentes expostos antes dos 14 anos podem ter seu desenvolvimento cognitivo, comportamental e afetivo comprometido. Além do risco de serem "presas" fáceis para os pedófilos e outras gentes do mal.


E me pergunto: qual será o futuro dessas gerações se não houver uma intervenção firme de pais e educadores? Não podemos desperdiçar uma juventude que, em essência, é tão promissora — menos preconceituosa, mais inclusiva e pacífica do que a nossa.


Cabe a nós, pais, avós e educadores, resgatar essa geração da hipnose digital, principalmente através do nosso exemplo, e dar-lhes asas para transformar esse mundo em um lugar melhor para todos.

 
 
 

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