A Vida Além dos Muros

Por que nos conformamos em viver atrás dos muros?

Talvez porque poucos de nós tenhamos criado lugares “perfeitos” para viver, condomínios com todas as suas diversões e protegidos pelos nossos altos e eletrificados muros.

Ao mesmo tempo que nos afastamos do resto da sociedade. Estamos “seguros e felizes” dentro dos nossos muros “perfeitos”. Será?

Recentemente eu li uma reportagem da CNN com o título: “O Brasil é considerado o país mais ansioso do mundo e o quinto mais depressivo”, de acordo com a Organização Mundial da Saúde – OMS.

“No Brasil, acontece uma morte por suicídio a cada 45 minutos, mas para cada morte temos outras 20 tentativas. Os números são altos e preocupantes”, disse o psiquiatra Humberto Müller, de Rondônia. Segundo ele, 4% dos adolescentes brasileiros apresentam sinais depressivos e 1 a cada 4 crianças já apresentou indícios da doença. Fonte: Agência Câmara de Notícias

A OMS estima que mais de 700 mil pessoas morrem por suicídio a cada ano no mundo e que quase 77% de todos os suicídios ocorrem em países de baixa e média renda. É a quarta maior causa de mortes de jovens entre 15 e 29 anos.

E você acha que a ansiedade e a depressão, que são as maiores causas de suicídio, respeitam os nossos muros? Nossas crianças, que estão “protegidas” por esses muros, escapam dessa triste estatística?

De acordo com o professor e sociólogo francês Émile Durkheim, o suicídio é possibilitado por excesso de coercitividade, de pressão no indivíduo ou de frouxidão nas normas. “O suicídio é um descontentamento, uma desconstrução do indivíduo que não consegue buscar sentido na vida, algo que o motive ou traga encantamento”, explica Fábio Medeiros, também professor de sociologia.

Tentamos proteger nossos filhos contra a violência urbana, encarcerando-os dentro dos muros, mas ao mesmo tempo não conseguimos protegê-los dessa doença que aflige a muitos, porque os muros precisam existir.

Infelizmente, vivemos em um dos países mais violentos do mundo. Estamos em 132º da lista de países mais seguros para viver em 2022, segundo o Institute for Economics & Peace.

“O Brasil está em queda livre no ranking de felicidade da WHR (Relatório Mundial da Felicidade), iniciativa da ONU, com a pontuação de cerca de 140 nações. Os brasileiros caíram 11 posições no ranking de 2023, na atual posição de 49ª. Este relatório se baseia em sete indicadores principais: PIB per capita, expectativa de vida saudável, liberdade, generosidade, apoio social e percepção de corrupção.” Reportagem da Folha de São Paulo de 20/03/2023.

Os países mais desenvolvidos do mundo estão nos primeiros lugares do ranking da felicidade. Fonte: https://worldhappiness.report/ed/2023/world-happiness-trust-and-social-connections-in-times-of-crisis/#ranking-of-happiness-2020-2022

São os países que não têm muros, não tem porteiros, nem segurança. São países que enfeitam as ruas com jardins da casa dos seus cidadãos e não se preocupam em trancar suas casas e nem seus carros.

Achar que a solução é construir muros, em todos os sentidos, é um erro muito grave. A solução está na união e cooperação entre os cidadãos para construirmos um país mais justo, honesto, saudável, livre e seguro.

Enquanto construímos muros, nossos políticos custam R$ 40 bilhões/ano. Somente Câmara e Senado têm 20 mil funcionários e R$ 13 bilhões em custo, o segundo maior do mundo, atrás apenas do EUA.

Enquanto construímos muros, a impunidade no Brasil é uma das maiores do mundo, a prisão acontece apenas depois do que eles chamam de “trânsito em julgado”, ou seja, criminosos ricos podem recorrer indefinitivamente sem ser presos. Nossos políticos, que são ricos às nossas custas, estão nesse meio. Em países como Alemanha, Argentina, Canadá, Espanha, Inglaterra, entre outros, o condenado aguarda PRESO o julgamento de instâncias superiores.

Enquanto construímos muros, amigos e familiares se afastam dos seus entes mais queridos para defender esses mesmos políticos.

Enquanto construímos muros, em países como Inglaterra, Alemanha, Holanda e Nova Zelândia, por onde eu passei esses últimos meses, a COMIDA é em média 5 vezes mais barata do que no Brasil. Lembrando que somos um dos maiores produtores de alimento do mundo. Por que pagamos tão caro?

A tributação representa 40,28% do rendimento médio do pagador de impostos, uma das mais caras do mundo, mas o Brasil continua oferecendo serviços públicos de baixa qualidade.

A infraestrutura de escoamento da produção de alimento é lenta e cara, porque não temos ferrovias e portos suficientes e eficientes. Nossas estradas são um bagaço. Nos países onde não há muros, os trens e metrôs estão por toda a cidade e entre eles. É impressionante.

Enquanto construímos muros, o Brasil é o 8º país em maior desigualdade social, apesar de estar em uma ótima colocação (12º) em renda per capita no mundo. Muito dinheiro para poucos.

Enquanto construímos muros, o Índice de Desenvolvimento Humano - IDH do Brasil foi de 0,754 ocupando a 87ª posição no ranking entre 191 países em 2022.

Não estou dizendo que os muros de concreto não são necessários na nossa realidade atual. O que precisamos é derrubar as barreiras que nos mantém refém a essa triste realidade e nos afastam. E, infelizmente, não tem outro caminho a não ser pela política. Nosso povo e nossas empresas têm feito um esforço tremendo para sobreviverem, mas se não eliminarmos o mal maior que são os políticos desonestos, oportunistas e sem experiência e capacitação técnica, nunca, jamais transformaremos nossa dura realidade.

Assim como não contratamos pessoas sem formação, experiência, valores humanos e os que podem trazer bons resultados para nossas empresas, não podemos escolher nossos governantes sem analisar esses dados.

E finalizo com essa a música maravilhosa do Rappa, Minha Alma:

“A minha alma está armada e apontada para a cara do sossego

Pois paz sem voz, não é paz é medo

Às vezes falo com a vida, às vezes é ela quem diz

Qual a paz que eu não quero conservar para tentar ser feliz?

As grades dos condomínios são para trazer proteção,

Mas também trazem a dúvida se é você que está nessa prisão.

Me abrace, me dê um beijo, faça um filho comigo,

mas não me deixe sentar na poltrona em um dia de domingo.

Procurando novas drogas de aluguel, nesse vídeo coagido.

É pela paz que eu não quero seguir admitindo.”

Até quando continuaremos a construir barreira entre nós? Quando enfeitaremos a nossa rua, cidade, país e nossos corações com os lindos jardins de nossas casas e os jardins da nossa liberdade, paz e felicidade?

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